A real (des)importância da revista The Economist

Muito barulho em torno da capa da revista The Economist, que retrata de forma extremamente negativa o ex-presidente Jair Bolsonaro. Na prática, porém, a capa apenas confirma o que muitos já sabem: a grande mídia deixou de ter como objetivo central informar, passando a sustentar agendas de poder. Quem acompanha o noticiário com mínima atenção já percebeu — ou ao menos desconfia fortemente — dessa mudança. Não à toa, cada vez mais pessoas recorrem a fontes alternativas de informação.

The Economist é uma revista de alcance mundial, com tiragem de cerca de 1,5 milhão de exemplares — algo como 6 milhões de leitores em potencial. Números respeitáveis, mas que perdem impacto quando lembramos que um único vídeo de Nikolas Ferreira pode ter um alcance dez vezes maior. Talvez até a programação diurna da Rede Vida consiga público semelhante ao da The Economist.

Mas a relevância da revista não está no número de exemplares, e sim em quem tem acesso a ela. Parte considerável dos bilionários, investidores e formadores de opinião internacionais recebe a The Economist. Note-se: “tem acesso” não é o mesmo que “lê”. E aqui está um ponto crucial. No passado, elites tinham tempo e formação para cultivar leitura, arte e pensamento. Hoje, num mundo em que muitos bilionários escolhem trabalhar 12, 14 ou 18 horas por dia para manter ou expandir sua riqueza, sobra pouco espaço para folhear revistas semanais.

Quem de fato lê a The Economist? Em geral, os herdeiros de grandes fortunas — que, como os aristocratas de outrora, dispõem de tempo livre — e os aspirantes ao chamado beautiful people. Esse segundo grupo é formado por estudantes, economistas, advogados, jornalistas e acadêmicos que acreditam que ler a revista pode abrir portas: bolsas de estudo, empregos, convites, aceitação dentro do grupo, ou recursos de pesquisa.

A influência da The Economist está menos em seu conteúdo e mais em sua função simbólica. Ela dita, para burocratas internacionais, herdeiros ociosos e bajuladores profissionais, o que deve ser considerado “bonito” ou “feio”, “certo” ou “errado”, “aceitável” ou “inaceitável”. E nem é necessário que a leiam: basta o impacto da capa e da manchete principal, suficientes para formar a convicção superficial, tediosa e arrogante típica dos medíocres. Um coro que, no fim, ecoa a velha máxima: “duas patas mau, quatro patas bom”.

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Adolfo Sachsida

Ex-Ministro de Minas e Energia e Ex-Secretário de Política Econômica

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